Ayrton Senna, 50: as histórias dos mundiais nunca conquistados
FONTE. KARTONLINE.

"Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si." - Ayrton Senna.
O grande ídolo (Ayrton Senna) se estivesse vivo comemoraria em 21/03 seu 50º aniversário. Sem dúvida um dos melhores kartistas brasileiros de todos os tempos. Com um espírito guerreiro, atrelado a vontade de vencer, motivou a inimizade de muitos e a admiração de muitos mais. OPortal KartOnline pesquisou partes de uma história marcada de sucessos e apresenta ao leitor uma visão diferenciada....
Unanimidade no kartismo nacional?
No cenário do kartismo brasileiro, Senna (kart número 7) era sem dúvida um dos melhores pilotos, mas não recolhia unanimidade. O seu estilo individualista, aliado a uma grande agressividade em pista, de certa forma gerava uma afronta ao "sistema", já politizado por federações e marcas de chassi e motores. Para o jornalista Lito Cavalcanti, a façanha de Ayrton por muitos anos, ultrapassava com ba parte dos pilotos: "Ayrton era um demônio. Matava o filho do dono do kart". O “dono do kart” era Mario de Carvalho, pai de Mario Sergio (KartMini), fabricante e fornecedor de peças dos dois pilotos. Lito acrescenta: "Notícia, para nós, era Ayrton Senna não ganhar".
A relação com demais pilotos da época sempre foi muito linear - poucas palavras - porém Mário Sergio por anos foi o grande adversário. Os dois tinham em comum a determinação e o profissionalismo. Ayrton estudava de manhã e passava as tardes no kartódromo de Interlagos. Mario Sergio estudava de tarde e, por isso, usava as manhãs para treinar. De segunda a sexta. Fizesse sol, fizesse chuva. Os resultados apareciam nos finais de semana, quando os dois estavam sempre disputando a ponta à frente dos adversários.
A indicação deste sucesso estava atrelada a sua paixão - uma entrega incessante de treinos e provas. A cada momento livre, chamava o motorista e ia, ou para a oficina do mestre "Tchê", meter o nariz em tudo, tentanto descobrir todos os segredos da mecânica de competição, ou treinava em Interlagos.
Enquadrando a CBA: relação de amor e ódio
Por muitos anos, um dos maiores "amigos" de Senna era o todo-poderoso Rubens Carpinelli que foi durante várias gestões, Presidente da Comissão de Kart da Confederação Brasileira de Automobilismo e Presidente da Federação Paulista de Automobilismo. A acidez e o estrelismo entre ambos a cada ano aumentava, suportada por títulos e muitas discussões. O preparador "Tché", resume esta relação a uma perseguição pura e simples.
"Varias vezes Ayrton foi ameaçado e pressionado pelos dirigentes brasileiros. No campeonato do mundo em Le Mans, o Carpinelli, que estava lá como chefe da equipe brasileira, exigiu de Ayrton que ele deixasse passar o Travaglini numa bateria em que estavam juntos, Ayrton recusou mas foi ameaçado com retaliações no Brasil. Quem salvou a cena foi o Ângelo Parilla que era o dono da equipa DAP em que Ayrton corria, disse-lhe bem claro que se alguma vez um seu piloto deixasse passar deliberadamente um outro com motores IAME (Italian American Motor Engineering) lhe partia os "cornos". Eu assisti á conversa, não é invenção não. Ouve uma outra situação em que Ayrton foi atirado para fora e não pode apresentar uma reclamação porque o chefe da equipe brasileira Bruno Brunetti não estava lá pois tinha ido passear com a mulher para Itália e quando Ayrton e Ângelo foram falar com os comissários foram mandados embora pois somente a equipe brasileira oficialmente podia faze-lo. Dai em diante o Ângelo exigiu uma carta da CBA, que ainda a têm, para que lhe desse poderes para representar o Ayrton, chegou a ser vergonhoso."
Competitividade nos Mundiais e a relação com a DAP
Um carreira de sucesso nas pistas brasileiras, fez Ayrton migrar o foco a projeção internacional. Após quebrar a cabeça em algumas etapas, a primeira grande vitória internacional de Ayrton Senna foi no campeonato Sul-Americano que se realizou no Uruguai (São José) em 1977. Ayrton, integrado na equipe brasileira ganhou bem e aos 17 anos conquistou o título. O seu grande rival nesse campeonato foi Walter Travaglini que ficou em segundo lugar.
Esta vitória internacional deu a Ayrton a primeira grande exposição na mídia especializada brasileira, consagrando seu valor. Com apenas 17 anos, lhe restava agora, a conquista do título mundial. A primeira tentativa seria no Mundial de 1978 que se realizaria em Le Mans, França.
Com o apoio de seu pai (Milton Guirado da Silva) e Tché, ambos iniciaram uma aproximação de sucesso com a marca italiana DAP, dos irmãos Ângelo e Achille Parilla, donos da equipe que havia consagrado o irlandês, Terry Fullerton, campeão mundial de kart em 1973.
A DAP, que com este nome homenageava o pai dos atuais donos (Achille e Ângelo), Di Ângelo Parilla, antigo dono da IAME, que havia sido o inventor dos motores de kart com válvulas rotativas. Diz a lenda que como engenheiro, o sr. Di Ângelo Parilla era brilhante, porém atuando como gestor não o era, por muitas vezes quase faliu e empresa.
A presença de Milton Guirado - empresário de sucesso no Brasil - fez a história mudar e basicamente a DAP atuava junto a presença do kartista Ayrton. Na época, em meados de 1977/78, seu pai e o espanhol "Tché" negociaram uma contrapartida financeira para a participação do Campeonato Mundial da França, em torno de U$ 7.000,00 - o que na altura era muito dinheiro, sujeito a um teste que seria feito no kartódromo de Parma.
Na Europa, o jovem Ayrton era desconhecido e nunca ninguém tinha ouvido falar dele e do título sul-americano, um cartão de visita não respeitado pelos europeus; sua primeira aventura europeia não iria ser fácil.
Ayrton desde jovem se mostrou socialmente uma pessoa muito introvertida e rígida, íntimo somente dos amigos e família. Inteligente, sensato e prático como era, Senna não concebia ser 2º de ninguém e, mais que tudo, adorava o que fazia - focando a vitória, sempre.
Essas características levavam-no a treinar compulsivamente e obsessivamente muitas vezes mais de 8 horas por dia em todo o tipo de condições, especialmente onde achava que era mais fraco (piso molhado) e ambicionava desesperadamente ser campeão do mundo.
Ayrton sabia que sem esforço, sacrifício e muito trabalho nada se conseguia pois era esse principio que tinha aprendido em casa e era também isso que punha em prática na sua maior paixão, o seu trabalho - o kart.
Estas características (determinação, ambição, disciplina, trabalho e talento) formaram a receita que criou como um dos maiores pilotos de competição de todos os tempos e que todos (mesmo aqueles que com ele antipatizam por uma qualquer razão) tiveram o prazer de o ver atuar.
Senna chegou a Milão (sede da DAP) poucos dias antes do Mundial e Ângelo Parilla, que o foi buscar ao aeroporto, conta que Senna praticamente não conseguia se comunicar. O seu inglês não passava de 50 palavras e o português de Parilla era inexistente. Acabaram por criar uma linguagem própria que era uma mistura de italiano/espanhol e português onde o que predominava eram os gestos. Funcionou.
Senna ficou num hotel de duas estrelas e só pedia para ir para a pista, em toda sua carreira levou a simplicidade e não forçou os exageros do kartismo atual. O kartódromo de Parma estava a mais de 100 km de Milão e nos testes, Fullerton era o naturalmente o piloto encarregado de escolher os motores e os pneus que iria usar no Mundial, além de acertar os chassis. Senna com os outros 4 pilotos da equipe, limitou-se a ambientar-se ao estilo italiano.
Finalmente, após testes exclusivos, o irlandês Achille deu o sinal verde a Ayrton tentar sua passagem de tempo. Segundo "Tchê", o brasileiro foi para a pista, deu 3 voltas e voltou ao box, pediu algumas alterações e voltou. Em 7 voltas igualou o tempo de Fullerton. Ângelo, Achille, Fullerton e toda a equipe não acreditaram no que estava acontecendo. Terry Fullerton, com quase 30 anos, estava no top da sua carreira e era sempre um fortíssimo candidato à vitória em qualquer prova. Por opção própria era um kartista profissional, além disso a pista de Parma tinha um traçado difícil e Senna nunca tinha usado pneus Bridgestone, estava habituado a pneus brasileiros.
Fullerton relatou: "Todos os anos surgiam novos pilotos, que pagavam por suas participações no Campeonato Mundial. Muitos eram competentes e de certa forma rápidos, mas nenhum que pudessem apostar efetivamente na vitória. Senna se mostrou diferente."
Peter Koene, filho do importador da DAP na Holanda, e que era também piloto da equipe assistiu a cena e disse: "Enquanto nós andávamos de Kart ele parecia que brincava com ele. Tinha uma facilidade em guia-lo impressionante. Era rapidíssimo."
No final de agosto/78 a DAP e o seu desconhecido piloto brasileiro seguiram para Le Mans, onde estariam presentes os principais pilotos de kart do mundo e suas equipes. Senna encontrou no mesmo período os compatriotas Walter Travaglini e Mário Sérgio Carvalho que com ele iriam formar a equipa brasileira, além do manager e "amigo" Rubens Carpinelli.
Durante o período da prova, a conceituada revista "Karting" escreveu: "A 2ª bateria tinha além do novo campeão europeu, o belga Pierre Knops, o extremamente rápido piloto brasileiro, Senna da Silva que usava equipamento DAP. Ele estava nesta bateria simplesmente porque tinha sido penalizado em 1 seg por causa da regra dos decibéis nos treinos cronometrados. Foi uma corrida limpa e o brasileiro simplesmente desapareceu na liderança sem nunca ter sido desafiado."
Tché explicou a penalização: "Foi lindo em Le Mans, Ayrton ganhou 5 baterias e classificou-se para as semifinais. O que aconteceu foi curioso e espetacular para ele, quando se classificou tinha o 3º tempo, atrás do Conrrado Fabi e do Fullerton, a um décimo de diferença. O Ângelo Parilla disse ao Ayrton para não se preocupar pois um décimo não era muito pouco e que ele facilmente ia buscar isso. Só que quando passou pela vistoria na reta, para medir o barulho do motor, o Ayrton passava muito forte e afogava o motor e o barulho do motor aumentava meio decibel e pela regra do limite de decibéis foi penalizado em um segundo. Assim em vez de largar em terceiro teve que largar em trigésimo."
Ângelo Parilla comentou a participação de Senna no Mundial: "A Bridgestone tinha compostos especiais para o campeonato, mas Senna não tinha direito a eles. Pedi-lhes mas eles recusaram. Consegui comprar um jogo para serem usados nas finais (U$ 600,00). Eram determinantes. Nas baterias o Ayrton tinha que usar os compostos normais e mesmo assim normalmente estava na liderança. Era impressionante para todos, pois ele ganhava 10 metros por volta. Teve azar porque o motor explodiu."
Na 1ª final partiu de 16º e acabou em 7º. Quando veio aos boxes pediu uma novo jogo de carenagens, sendo que a justificava era a retação do ar. Na 2ª final ele estava quase na liderança quando se despistou com o Allen. Na 3ª final teve que voltar aos compostos regulares da Bridgestone pois nessa altura os especiais já estavam sem borracha. Ficou muito desapontado porque realmente poderia ter sido Campeão do Mundo na sua primeira tentativa.
Na classificação final, Ayrton Senna no seu primeiro mundial ficou em 6º, tendo como campeão o americano Lake Speed.
Em entrevista a revista "Karting", Lake Speed disse: "Eu também era um desconhecido e nem sei como ganhei o campeonato. Ouvi falar que havia um brasileiro, novo e muito rápido, que iria ser um verdadeiro candidato á vitória. Houve 3 finais e em uma delas (2ª) eu estava em primeiro e Senna assegurava a segunda colocação. Ele e eu sabíamos que se eu ganhasse aquela final seria o campeão e assim eu sabia que ele ia tentar passar-me. De repente no fim da reta, "senti" que ele ia tentar a ultrapassagem. Não sei porque mas decidi não virar para a curva no lugar do costume e alarguei-a porque ele estaria lá. Foi exatamente isso que aconteceu. Ele vinha tocando e se eu tivesse feito a curva normal eu, ou nós, tínhamos lá ficado, assim ele seguiu em frente e não o vi mais na corrida. A sua sede de vitórias era insaciável. Todos nós previmos naquele campeonato um futuro brilhante para ele."
Ainda nesse ano Ayrton correu em Sugo, o GP do Japão, também para a DAP. Ângelo Parilla contou que a sua velocidade era incrível. Porém por problemas nos pneus, basicamente desgaste no composto, fez Senna não completar a prova.
O sonho da conquista do mundial persistia e continuando sua participação com a equipe DAP, em 1979 após a conquista do Campeonato Brasileiro de Kart (categoria 1ª-100cc - FIA), Senna seguiu para Portugal na tentativa de obter finalmente o título mundial de kart, no Circuito do Estoril, com o kart número 15. Porém conquistou o vice-campeonato, ficando atrás do holandes Peter Koene.
Seu nome estava consagrado na Europa que curvou-se ao alto nível do brasileiro, mesmo sem a conquista do Mundial. Em 1980 disputou de novo o Brasileiro, em Goiânia/GO, alcançando o seu terceiro título nacional. Um fato curioso durante esta etapa foi a pressão de pilotos, pais e equipes em desclassificarem Senna, visto que o mesmo não havia participado de "todos" os treinos, durante a categoria 100cc - FIA. Como mera curiosidade, nesse ano, o campeão brasileiro de kart da categoria 125cc, foi Maurício Gugelmim.
Com o grid "pequeno demais" no Brasil, Senna seguiu para Nivelles, na Belgica - durante a terceira tentativa da conquista do Campeonato Mundial de kart, acompanhando por Tchê. Competindo pela DAP, com o kart 17, novamente ficou com o vice-campeonato, conquistado por Peter de Bruijn e tendo o companheiro de equipe Terry Fullerton na terceira posição.
O grande ídolo (Ayrton Senna) se estivesse vivo comemoraria em 21/03 seu 50º aniversário. Sem dúvida um dos melhores kartistas brasileiros de todos os tempos. Com um espírito guerreiro, atrelado a vontade de vencer, motivou a inimizade de muitos e a admiração de muitos mais. OPortal KartOnline pesquisou partes de uma história marcada de sucessos e apresenta ao leitor uma visão diferenciada....
Unanimidade no kartismo nacional?
No cenário do kartismo brasileiro, Senna (kart número 7) era sem dúvida um dos melhores pilotos, mas não recolhia unanimidade. O seu estilo individualista, aliado a uma grande agressividade em pista, de certa forma gerava uma afronta ao "sistema", já politizado por federações e marcas de chassi e motores. Para o jornalista Lito Cavalcanti, a façanha de Ayrton por muitos anos, ultrapassava com ba parte dos pilotos: "Ayrton era um demônio. Matava o filho do dono do kart". O “dono do kart” era Mario de Carvalho, pai de Mario Sergio (KartMini), fabricante e fornecedor de peças dos dois pilotos. Lito acrescenta: "Notícia, para nós, era Ayrton Senna não ganhar".

A indicação deste sucesso estava atrelada a sua paixão - uma entrega incessante de treinos e provas. A cada momento livre, chamava o motorista e ia, ou para a oficina do mestre "Tchê", meter o nariz em tudo, tentanto descobrir todos os segredos da mecânica de competição, ou treinava em Interlagos.
Enquadrando a CBA: relação de amor e ódio
Por muitos anos, um dos maiores "amigos" de Senna era o todo-poderoso Rubens Carpinelli que foi durante várias gestões, Presidente da Comissão de Kart da Confederação Brasileira de Automobilismo e Presidente da Federação Paulista de Automobilismo. A acidez e o estrelismo entre ambos a cada ano aumentava, suportada por títulos e muitas discussões. O preparador "Tché", resume esta relação a uma perseguição pura e simples.
"Varias vezes Ayrton foi ameaçado e pressionado pelos dirigentes brasileiros. No campeonato do mundo em Le Mans, o Carpinelli, que estava lá como chefe da equipe brasileira, exigiu de Ayrton que ele deixasse passar o Travaglini numa bateria em que estavam juntos, Ayrton recusou mas foi ameaçado com retaliações no Brasil. Quem salvou a cena foi o Ângelo Parilla que era o dono da equipa DAP em que Ayrton corria, disse-lhe bem claro que se alguma vez um seu piloto deixasse passar deliberadamente um outro com motores IAME (Italian American Motor Engineering) lhe partia os "cornos". Eu assisti á conversa, não é invenção não. Ouve uma outra situação em que Ayrton foi atirado para fora e não pode apresentar uma reclamação porque o chefe da equipe brasileira Bruno Brunetti não estava lá pois tinha ido passear com a mulher para Itália e quando Ayrton e Ângelo foram falar com os comissários foram mandados embora pois somente a equipe brasileira oficialmente podia faze-lo. Dai em diante o Ângelo exigiu uma carta da CBA, que ainda a têm, para que lhe desse poderes para representar o Ayrton, chegou a ser vergonhoso."
Competitividade nos Mundiais e a relação com a DAP
Um carreira de sucesso nas pistas brasileiras, fez Ayrton migrar o foco a projeção internacional. Após quebrar a cabeça em algumas etapas, a primeira grande vitória internacional de Ayrton Senna foi no campeonato Sul-Americano que se realizou no Uruguai (São José) em 1977. Ayrton, integrado na equipe brasileira ganhou bem e aos 17 anos conquistou o título. O seu grande rival nesse campeonato foi Walter Travaglini que ficou em segundo lugar.
Esta vitória internacional deu a Ayrton a primeira grande exposição na mídia especializada brasileira, consagrando seu valor. Com apenas 17 anos, lhe restava agora, a conquista do título mundial. A primeira tentativa seria no Mundial de 1978 que se realizaria em Le Mans, França.

A DAP, que com este nome homenageava o pai dos atuais donos (Achille e Ângelo), Di Ângelo Parilla, antigo dono da IAME, que havia sido o inventor dos motores de kart com válvulas rotativas. Diz a lenda que como engenheiro, o sr. Di Ângelo Parilla era brilhante, porém atuando como gestor não o era, por muitas vezes quase faliu e empresa.
A presença de Milton Guirado - empresário de sucesso no Brasil - fez a história mudar e basicamente a DAP atuava junto a presença do kartista Ayrton. Na época, em meados de 1977/78, seu pai e o espanhol "Tché" negociaram uma contrapartida financeira para a participação do Campeonato Mundial da França, em torno de U$ 7.000,00 - o que na altura era muito dinheiro, sujeito a um teste que seria feito no kartódromo de Parma.
Na Europa, o jovem Ayrton era desconhecido e nunca ninguém tinha ouvido falar dele e do título sul-americano, um cartão de visita não respeitado pelos europeus; sua primeira aventura europeia não iria ser fácil.
Ayrton desde jovem se mostrou socialmente uma pessoa muito introvertida e rígida, íntimo somente dos amigos e família. Inteligente, sensato e prático como era, Senna não concebia ser 2º de ninguém e, mais que tudo, adorava o que fazia - focando a vitória, sempre.
Essas características levavam-no a treinar compulsivamente e obsessivamente muitas vezes mais de 8 horas por dia em todo o tipo de condições, especialmente onde achava que era mais fraco (piso molhado) e ambicionava desesperadamente ser campeão do mundo.
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Estas características (determinação, ambição, disciplina, trabalho e talento) formaram a receita que criou como um dos maiores pilotos de competição de todos os tempos e que todos (mesmo aqueles que com ele antipatizam por uma qualquer razão) tiveram o prazer de o ver atuar.
Senna chegou a Milão (sede da DAP) poucos dias antes do Mundial e Ângelo Parilla, que o foi buscar ao aeroporto, conta que Senna praticamente não conseguia se comunicar. O seu inglês não passava de 50 palavras e o português de Parilla era inexistente. Acabaram por criar uma linguagem própria que era uma mistura de italiano/espanhol e português onde o que predominava eram os gestos. Funcionou.
Senna ficou num hotel de duas estrelas e só pedia para ir para a pista, em toda sua carreira levou a simplicidade e não forçou os exageros do kartismo atual. O kartódromo de Parma estava a mais de 100 km de Milão e nos testes, Fullerton era o naturalmente o piloto encarregado de escolher os motores e os pneus que iria usar no Mundial, além de acertar os chassis. Senna com os outros 4 pilotos da equipe, limitou-se a ambientar-se ao estilo italiano.
Finalmente, após testes exclusivos, o irlandês Achille deu o sinal verde a Ayrton tentar sua passagem de tempo. Segundo "Tchê", o brasileiro foi para a pista, deu 3 voltas e voltou ao box, pediu algumas alterações e voltou. Em 7 voltas igualou o tempo de Fullerton. Ângelo, Achille, Fullerton e toda a equipe não acreditaram no que estava acontecendo. Terry Fullerton, com quase 30 anos, estava no top da sua carreira e era sempre um fortíssimo candidato à vitória em qualquer prova. Por opção própria era um kartista profissional, além disso a pista de Parma tinha um traçado difícil e Senna nunca tinha usado pneus Bridgestone, estava habituado a pneus brasileiros.
Fullerton relatou: "Todos os anos surgiam novos pilotos, que pagavam por suas participações no Campeonato Mundial. Muitos eram competentes e de certa forma rápidos, mas nenhum que pudessem apostar efetivamente na vitória. Senna se mostrou diferente."
Peter Koene, filho do importador da DAP na Holanda, e que era também piloto da equipe assistiu a cena e disse: "Enquanto nós andávamos de Kart ele parecia que brincava com ele. Tinha uma facilidade em guia-lo impressionante. Era rapidíssimo."
No final de agosto/78 a DAP e o seu desconhecido piloto brasileiro seguiram para Le Mans, onde estariam presentes os principais pilotos de kart do mundo e suas equipes. Senna encontrou no mesmo período os compatriotas Walter Travaglini e Mário Sérgio Carvalho que com ele iriam formar a equipa brasileira, além do manager e "amigo" Rubens Carpinelli.

Tché explicou a penalização: "Foi lindo em Le Mans, Ayrton ganhou 5 baterias e classificou-se para as semifinais. O que aconteceu foi curioso e espetacular para ele, quando se classificou tinha o 3º tempo, atrás do Conrrado Fabi e do Fullerton, a um décimo de diferença. O Ângelo Parilla disse ao Ayrton para não se preocupar pois um décimo não era muito pouco e que ele facilmente ia buscar isso. Só que quando passou pela vistoria na reta, para medir o barulho do motor, o Ayrton passava muito forte e afogava o motor e o barulho do motor aumentava meio decibel e pela regra do limite de decibéis foi penalizado em um segundo. Assim em vez de largar em terceiro teve que largar em trigésimo."
Ângelo Parilla comentou a participação de Senna no Mundial: "A Bridgestone tinha compostos especiais para o campeonato, mas Senna não tinha direito a eles. Pedi-lhes mas eles recusaram. Consegui comprar um jogo para serem usados nas finais (U$ 600,00). Eram determinantes. Nas baterias o Ayrton tinha que usar os compostos normais e mesmo assim normalmente estava na liderança. Era impressionante para todos, pois ele ganhava 10 metros por volta. Teve azar porque o motor explodiu."
Na 1ª final partiu de 16º e acabou em 7º. Quando veio aos boxes pediu uma novo jogo de carenagens, sendo que a justificava era a retação do ar. Na 2ª final ele estava quase na liderança quando se despistou com o Allen. Na 3ª final teve que voltar aos compostos regulares da Bridgestone pois nessa altura os especiais já estavam sem borracha. Ficou muito desapontado porque realmente poderia ter sido Campeão do Mundo na sua primeira tentativa.
Na classificação final, Ayrton Senna no seu primeiro mundial ficou em 6º, tendo como campeão o americano Lake Speed.
Em entrevista a revista "Karting", Lake Speed disse: "Eu também era um desconhecido e nem sei como ganhei o campeonato. Ouvi falar que havia um brasileiro, novo e muito rápido, que iria ser um verdadeiro candidato á vitória. Houve 3 finais e em uma delas (2ª) eu estava em primeiro e Senna assegurava a segunda colocação. Ele e eu sabíamos que se eu ganhasse aquela final seria o campeão e assim eu sabia que ele ia tentar passar-me. De repente no fim da reta, "senti" que ele ia tentar a ultrapassagem. Não sei porque mas decidi não virar para a curva no lugar do costume e alarguei-a porque ele estaria lá. Foi exatamente isso que aconteceu. Ele vinha tocando e se eu tivesse feito a curva normal eu, ou nós, tínhamos lá ficado, assim ele seguiu em frente e não o vi mais na corrida. A sua sede de vitórias era insaciável. Todos nós previmos naquele campeonato um futuro brilhante para ele."

O sonho da conquista do mundial persistia e continuando sua participação com a equipe DAP, em 1979 após a conquista do Campeonato Brasileiro de Kart (categoria 1ª-100cc - FIA), Senna seguiu para Portugal na tentativa de obter finalmente o título mundial de kart, no Circuito do Estoril, com o kart número 15. Porém conquistou o vice-campeonato, ficando atrás do holandes Peter Koene.
Seu nome estava consagrado na Europa que curvou-se ao alto nível do brasileiro, mesmo sem a conquista do Mundial. Em 1980 disputou de novo o Brasileiro, em Goiânia/GO, alcançando o seu terceiro título nacional. Um fato curioso durante esta etapa foi a pressão de pilotos, pais e equipes em desclassificarem Senna, visto que o mesmo não havia participado de "todos" os treinos, durante a categoria 100cc - FIA. Como mera curiosidade, nesse ano, o campeão brasileiro de kart da categoria 125cc, foi Maurício Gugelmim.
Com o grid "pequeno demais" no Brasil, Senna seguiu para Nivelles, na Belgica - durante a terceira tentativa da conquista do Campeonato Mundial de kart, acompanhando por Tchê. Competindo pela DAP, com o kart 17, novamente ficou com o vice-campeonato, conquistado por Peter de Bruijn e tendo o companheiro de equipe Terry Fullerton na terceira posição.

A participação de Senna em Nivelles mostrou todo o arrojo do piloto na pista já que nas eliminatórias, vencidas por Stefano Modena, o brasileiro sofreu um toque de Marcel Gysin e rodou na curva, caindo para a décima posição e após muita luta técnica garantiu a segunda posição. A primeira final, foi resumida pela revista "Karting": "Silva ultrapassou Marcel Gysin sacudindo o punho, aparentemente por ser fechado pelo suíço nas eliminatórias. Enquanto Fullerton seguia na liderança, seguido por Silva e Gysin, o pelotão dos oito primeiros kartsitas, fechavam a voltam nno mesmo segundo. Senna fazia a volta mais rápida e elevava a qualidade técnica da prova." A segunda final foi vencida por Ayrton, porém a terceira final ficou com o holandês Peter de Brujin, que levou o campeonato. Michael Schumacher, competindo na F1, afirmou que esteve presente na prova, com 11 anos, assistindo o Mundial.


Após as participações nos campeonatos acima, Senna deixou as competições de kart e iniciou um fantástica carreira de vitórias nos campeonatos de monoposto... história na qual vibramos e respeitamos, do maior ídolo do automobilismo nacional.
Veja abaixos os principais títulos conquistados por Senna, no kartismo nacional/internacional:
1975
Campeão Paulista (categoria 100cc)
1976
Campeão Paulista
1977
Campeão Sul-Americano
1978
Campeão Sul-Americano
Campeão Brasileiro
1979
Campeão Brasileiro
Vice-Campeão Mundial
1980
Campeão Brasileiro
Campeão Sul-Americano
Vice-Campeão Mundial
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Você Sabia? Ayrton Senna e a estreia numa corrida de kart. Leia mais...Grandes Entrevistas - Lúcio Pascual (Tchê): a evolução do kartismo. Leia mais....Tony Kart - Homenagem ao Ayrton Senna. Leia mais...
Por Leandro Claro, editor-chefe do Portal KartOnline.
Blibliografia e Fonte de Pesquisa: Interlagos Motor Clube, Autosport, Ayrton Senna Forever, Dap di Angelo Parrilla (dapspa@inwind.it), FlyingLap. Entrevista pessoal com Lúcio Pascual (Tchê).
1975
Campeão Paulista (categoria 100cc)
1976
Campeão Paulista
1977
Campeão Sul-Americano
1978
Campeão Sul-Americano
Campeão Brasileiro
1979
Campeão Brasileiro
Vice-Campeão Mundial
1980
Campeão Brasileiro
Campeão Sul-Americano
Vice-Campeão Mundial
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Por Leandro Claro, editor-chefe do Portal KartOnline.
Blibliografia e Fonte de Pesquisa: Interlagos Motor Clube, Autosport, Ayrton Senna Forever, Dap di Angelo Parrilla (dapspa@inwind.it), FlyingLap. Entrevista pessoal com Lúcio Pascual (Tchê).
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